Pedro Ivo Frota | Semovente

Semovente

Semovente

 

Não foi nada fácil atravessar a pandemia e um governo de extrema direita no Brasil, saímos todos devastados psicologicamente, sendo assim não queria fazer um disco pesado, a realidade já era pesada o suficiente, mas era importante manifestar uma tristeza e desilusão com o mundo e mais que tudo utilizar o humor, uma arma que ajuda a atravessar momentos difíceis. Semovente precisa ser lido e escutado assim.

O álbum abre com a faixa – título que poderia ser facilmente um hit dos anos 80 no estilo de “ Realce” e “ Luar” de Gilberto Gil, traz a participação de Taynã Frota e fecha com com as baladas “ À Deriva” –  canção mineira praieira que remete bastante ao “ Native Dancer” , disco do Wayne Shorter com Milton Nascimento e  “Moonlight “ –  canção em inglês que traz a participação do Californiano Kai Killion.

“ Moonlight “ é especialmente triste, traz um afeto de quem ainda insiste em preservar uma esperança interior apesar da distopia que vivemos. A canção nos remete à capa do álbum, uma foto feita por Joyce Damore chamada “ Solitaire Branchet” ( ramo solitário) que reflete bem essa percepção de preservação de um estado de consciência interior responsável pela sanidade, ou vida crescendo à revelia – Semovente.

O fundo desfocado dá um efeito psicodélico que passa a sensação de transcendência em oposição ao imediatismo pós moderno ou algo que está ruindo, se perdendo. “ I don’t know why we’ ve lost What we were “ – Diz um dos versos de “ “Moonlight “.

O Afoxé “ Falso Profeta”, quarta faixa do disco, tem o título auto- explicativo: “ O sábio fala pouco/ o que afaga é o fogo/ mais nada” ; Dizem os versos da canção que atacam a intolerância religiosa e o fascismo no Brasil.

Em “ Ziguezagueando “, canção que lembra os sambas salsiados do Marku Ribas, a pergunta “ e agora, quem é otário  e quem é malandro?” Fica no ar no contexto do auge da pandemia em que ficar em casa era a atitude mais adequada, recomendação que foi abertamente desrespeitada pelos pseudo – malandros que nos desgovernavam na época.

Em ” Ex – Citado”,  mais uma em parceria com Mauro Aguiar, o eu – lírico lamenta não ter sido citado pelo Caetano e soa como provocação a uma leitura tropicalista da cultura embora muita coisa tenha mudado de lá para cá. A canção não deixa de ser uma crítica a um segmento de mercado indie – nova – mpb excessivamente caetanístico, aliás, apegado ao caráter mais superficial do que representava sua obra na época, feito por uma turminha hipster de classe média tentando se achar no caos político e cultural do Brasil.

A ironia também contempla a precariedade do artista independente que de independente não tem nada e como em qualquer mercado depende de uma cadeia produtiva, a canção retrata essa precariedade enquanto a cultura do apadrinhamento rola solta no show business e a seara democrática da internet não sustenta o artista independente, sobretudo o interessado na ruptura de um padrão estético aceito nos nichos de mercado

A ironia da ironia é que a letra do Mauro Aguiar foi uma brincadeira quando o Thiago Amud, compositor  cuja obra destoa completamente de uma leitura rasa do tropicalismo e da obra do Caetano, foi citado pelo Caetano.

Já em ” Caracu” a precariedade retratada está no cidadão comum atônito com os rumos do país em tempos de pandemia, extrema direita e risco de ruptura democrática : ” Efeito/ É tudo um efeito isso é puro preconceito/Temos o pleito e o sangue azul/ o direito rarefeito e essa cara de cú” – dizem os versos

O álbum aborda questões sérias apesar do humor e aposta num sexteto da pesada na condução de uma sonoridade brasileira que abarca o pop e o jazz

Ouça aqui:

https://open.spotify.com/intl-pt/album/2HpTAUUz1NOxJRfdnhxhpM?si=1b0ywFB4QG2NQwG_JzPBYw

FICHA TËCNICA

 

Banda 

Piano e voz – Pedro Ivo Frota 

Baixo elétrico – Rodrigo Ferreira 

Guitarra e Violão – André Siqueira 

Percussão – Bernardo Aguiar 

Sax e Flauta – Yuri Villar 

Bateria, trombone e trompete – Antônio Neves 

Arranjos 

Ziguezagueando, Moonlight e Falso Profeta – Pedro Ivo Frota 

Semovente , Caracu e Falso Profeta – Yuri Villar 

Compositores – parcerias 

Mauro Aguiar – Semovente, Caracu, Ex – Citado 

Renato Frazão – Ziguezagueando 

Taynã – À Deriva 

Participações especiais 

Taynã na faixa Semovente 

Kai Killion na faixa Moonlight 

Gravação 

Gabriel Lucchini  – Estúdio Fibra 

Daniel Sili – Estúdio Boca do Mato 

Edição 

Ian Sá 

Produção Musical 

Pedro Ivo Frota e Elisio Freitas 

Mixagem 

Elisio Freitas 

Masterização 

Bruno Giorgi 

Capa 

Foto – Joyce Damore

Design – Mauro Aguiar