É carnaval, é navalha.
Através da celebração o álbum Carnavalha se volta contra tudo o que é
careta e autoritário.
O disco lançado pelo selo ” cantores del mundo ” em 2021 é o filho rebelde
do álbum Monolito.
O power trio formado por André Siqueira na guitarra, Bernardo Aguiar na
percussão e Ivo Senra nos Sintetizadores ( que também assina a produção
musical) invoca a festa anárquica do Carnaval e bebe na canção brasileira tradicional apontando para uma estética experimental e contemporânea.
A cultura popular é contextualizada num carnaval distópico e sombrio tendo
como ponto de partida a poesia de Mauro Aguiar.
Beber na fonte é valorizar a fonte acima de tudo, seguindo essa ideia, o
álbum recorre aos ritmos tradicionais brasileiros e cria uma roupagem que
dialoga com a música pop feita no mundo hoje.
Maracatu, Frevo, Samba, Carimbó e Afoxé estão juntos numa unidade
estética poética musical e imagética, partindo da ideia de que não há nada mais underground do que a cultura popular
Hoje nós vivemos um cansaço na sociedade
e a realidade parece um filme de ficção científica distópico.
O capitalismo nos aprisiona em bolhas, até mesmo a rebeldia é cooptada e,
se não for imbuída de espírito crítico, se torna clichê, apenas mais um show
na imensa plataforma das redes sociais.
É partindo desse cansaço que o álbum Carnavalha insurge recorrendo à
festa como fuga e enfrentamento da barbárie cotidiana.
A obra é um incômodo irresistível em cada uma das suas 6 faixas:
O disco abre com um Maracatu psicodélico, a faixa título do álbum, cujo
clímax são os versos “morte querida, é normal / és a cereja do bolo / por isso, assim seja / escolho teu colo/ pois é carnaval”;
Passa com humor pelo Frevo ” Diabólido “, o Carimbó ” Um dia vc acerta ” e
o samba ” Bicho Pau”;
O afoxé ” Aceitação ” ataca a intolerância religiosa ” tantos filhos de Santo/
tantos babalorixás/ em chamas / tantos chamamentos”;
O álbum fecha com o samba “Meiúca”. O eu lírico é um personagem do Cais
do Valongo, a voz do Malandro.” Meu fundo do poço/ pra enterrar meu osso
colosso/ meu resto rosto insosso/ depois viro encosto/ meu posto”. A faixa
conta com a participação especial do cantor e compositor Muato.
A caretice toma conta do Brasil, os tempos pedem obras transgressoras. O álbum Carnavalha é transgressor do início ao fim.
Partindo da antropofagia brasileira que nos formou o disco retoma a contracultura de forma crítica, buscando ressituar o lugar fundamental da rebeldia de forma não panfletária, como busca da beleza.
Ficha técnica:
Ivo Senra – Sintetizador e produção musical
André Siqueira – Guitarra
Bernardo Aguiar – Percussão
Composição – Pedro Ivo/Mauro Aguiar
Capa –
Foto: Walter Reis
Design: Mauro Aguiar