14 dez O Pop e o popular
A dimensão pop de qualquer trabalho artístico tem a ver com se sujar em maior ou menor medida
Mas esse “ se sujar” pode fazer parte de uma crítica dentro de uma obra
Sempre me pergunto se é possível anular o diálogo com o mercado, afinal ele sempre vai estar lá, queira ou não esse diálogo ultrapassa a vontade do criador, é uma condição da pós modernidade.
Por isso penso que a arte que se diz “ pura” porque não topa o papo com o mercado é em primeiro lugar uma arte ingênua.
Os tropicalistas souberam lidar com essa dialética muito bem, e nesse sentido o que venho tentando fazer aqui bebe nessa fonte de modo crítico, buscando a desconstrução.
Esse dilema do mercado me lembra um pouco a relação com as redes sociais:
A opção de sair me parece legítima mas isso não anula um problema
Estar nas redes é se sujar de alguma maneira, me parece impossível estar aqui nesse espaço e não critica – lo
Aqui é o mercado do mundo, sujo, promíscuo, caótico, efêmero, imediatista.
Mas aqui também é um campo de batalha cultural.
Vc topa ou não topa a guerra?
Sair é cuidar da sua saúde mental, e de alguma forma a arte também tem a ver com isso, o equilíbrio, a espiritualidade.
Quem acha que ficar aqui e simplesmente seguir o fluxo dessa voragem virtual sem crítica tá ok, eu só posso fazer joinha. Dá até sono.
Sou muito inquieto pra fingir que tá tudo bem e não ir pra briga..
Apesar do cansaço
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O Pop sempre me interessou enquanto linguagem, não como fenômeno.
Como fenômeno o pop é cada vez mais óbvio: uma indústria de massa, um produto e seus seguidores.. é claro que existem muitas nuances e exceções que confirmam a regra da previsibilidade..
Como linguagem o pop me interessa mais, especialmente a linguagem aprofundada, que foge da lógica fácil: refrão, coreografia, apelo sexual, imagem .. Mesmo entendendo que tudo isso carece de talento e borogodó que não é pra qualquer um, o que me interessa é a subversão desse lugar comum, que ainda pode ser chamada de pop.
Dito isso, tenho que confessar que estou extremamente cansado dessa necessidade de diálogo com o mercado que o pop propõe, mesmo porque esse diálogo na esfera de linguagem e flerte do pop que fiz até aqui só pode trazer o mérito (talvez até um pouco tolo principalmente se tratando de pop) da integridade artística.
Tudo isso pra dizer que o álbum semovente talvez seja o mais pop que fiz até aqui, mas já adianto de antemão que é o pop que não é pop mais hoje em dia, ou seja, certamente vai morrer na praia e eu vou rir e continuar fazendo música porque é isso né, gente, vamos fazer o quê? Tem algo melhor? Tem. Sexo. Vou continuar fazendo na medida do possível também..
Posso morder a língua, mas acho que esse vai ser meu último álbum pop, se morder, ótimo..
Esse foi um motivo forte pra escolher fazer esse trabalho e esse repertório agora, dificilmente faria em outro momento
A xepa do que venho produzindo de canção
A xepa é o ouro. E..
Veja bem, eu disse pop, não disse popular