Pedro Ivo Frota | Nova – MPB

Nova – MPB

Nova – MPB

O fato do termo nova – mpb ter mais a ver com mercado do que com música traz implicações estéticas e políticas.
Se pensarmos que o termo mpb surgiu na ditadura, como oposição ao regime, dá pra notar o abismo que existe entre as gerações e fica claro que a palavra ” nova” não dá conta de uma ordem cronológica coerente.
É muito claro no conteúdo desse seguimento uma forte influência da publicidade que não considera a dialética complexa do pop no tropicalismo. Feito por uma geração que cresceu nas redes sociais e bebeu da produção fonográfica dos anos 80 e 90 que, embora tenha coisas muito interessantes, não se compara com a produção da contracultura, rock progressivo, psicodelia, ou mesmo do jazz dos anos 60 e 70.
A nova – mpb faz parte do deserto político que vivemos agora. Quando não é alienada, cai num fetiche de militância política narcísica via redes sociais. Há por trás disso uma enorme crise de identidade na classe média que se estende para a sociedade.
Um discurso revoltadinho com lapsos de autoajuda e fofura marcam o conteúdo da maioria dessa produção.
Embora o mercado absorva, e a internet continue sendo vista como o paraíso dos artistas independentes, o que me move não é qualquer tipo de ataque gratuito a algum artista, o que repudio.
Trata – se apenas de uma crítica a um segmento de mercado.
Essa não é uma confusão inocente: envolve curadores, imprensa, críticos, artistas, sites, editais, playlists, páginas, festivais, prêmios, por isso ninguém cutuca a ferida.
A perversidade está em deixar toda uma produção que leva essas considerações em conta na estética e na proposta em segundo plano.
Quem diz o que deve ser ouvido? Isso depende só do artista na internet? Do quanto ele gasta? Do quanto o conteúdo é interessante? Fica a pergunta.
O festival da canção hoje é o the voice Brasil. Não há imagem mais clara.
Suspeito que isso não dependa só de fulano, e sim de uma estrutura cheio de panelinhas, conchavos e bajulação.
Quem acha que o meio artístico tbm é flor que se cheire tá enganado, mas o que me move são preocupações maiores, acho que ficou claro. Sem crítica não há crescimento.

Foto: poodle da nova – mpb.

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