
13 dez Em Busca da Nação
Recentemente vi uma entrevista do Simas em que ele diz que a Nação tem que dar errado porque foi feita por brancos, um projeto branco de Nação (ainda não li, só vi a manchete)
Sou admirador do Simas, gosto do que ele escreve e da forma como vê o mundo, provavelmente concordaria com isso há um mês atrás. Porém, comecei a ler esse livro do Antonio Riserio e discordo bastante desse raciocínio
Estou adorando a leitura, apesar de discordar de vários pontos
O Riserio é um provocador, tá longe de ser um amador e um aventureiro, o cara é um antropólogo, mora em Itaparica, escreve de um jeito despretensioso e quando o caldo engrossa mantém a simplicidade. O que é típico de quem sabe bem o que está falando e não escreve pra se mostrar.
Voltando ao livro, ainda não acabei, ele faz uma crítica à historiografia pós ditadura que surgiu como resposta à historiografia conservadora que foi escrita a partir do ponto de vista português, enaltecendo acriticamente suas conquistas. A resposta a isso surgida nos anos 70 foi violenta e importantíssima naquele momento, mas acabou permanecendo como legado simplista que vê tudo com maniqueísmo, como se tudo fosse uma luta entre bandidos e mocinhos, sem considerar as nuances desses processos históricos nem a nossa complexidade enquanto Nação essencialmente mestiça ( do ponto de vista cultural e racial).
Quando fala isso, não fala como um amador. É muito clara a familiaridade que ele tem com o assunto, citando o tempo todo referências sem academicismo ( não que isso seja necessariamente ruim).
Apesar de discordar em alguns pontos essa leitura além de prazerosa está me fazendo rever o Brasil, a nossa realidade e um possível futuro
Um fato que não tem como discordar é:
A gente olha pro Brasil com uma decepção, como se nós só tivéssemos motivos para lamentar. É claro que nessa balança não entra o bolsonarismo, fato de vergonha que passou da lamentação.
Mas vale a pergunta até que ponto essa visão derrotista ( o que é diferente do pessimismo) de nós mesmos pode nos levar a algum lugar melhor
Já deu errado, gente, não precisa dar mais
O otimismo tem a sua potência também, não é necessariamente ingênuo.
A visão de uma unidade nacional vai além de uma ideia careta positivista de ” ordem e progresso” ou mesmo do nacionalismo mais tacanho
Tem a ver com o nosso processo histórico, nossos traumas, as guerras, o escambo cultural e sincretico que aconteceu durante anos e que nos faz únicos e especiais
Mais de 400 milhões de pessoas falando a língua portuguesa num país de dimensões continentais
A ideia de país não é estática, é mutante, está sempre em movimento
Mas o marxismo que se diz universal e o liberalismo que acredita que a globalização vai além das nações não ultrapassaram a ideia das nações que estão aí mais fortes do que nunca como conceito complexo dentro de uma unidade que abarca a diversidade
Pra além do mito da democracia racial a mestiçagem é louvada no livro como um processo essencialmente popular e natural e não anula, de forma alguma, a importância da luta antirracista e contra qualquer tipo de escravidão humana ( existem as formas modernas de escravidão também )
Quero ler mais, entender, refletir
Ele é um crítico voraz do identitarismo e tenho que dizer que até aqui concordei muito com o que ele disse
Sou um leitor leigo e desconfiado
Mas vejo que ele tem familiaridade com o que está dizendo, não está se arriscando num assunto tão difícil e tão caro a todos nós com leviandade
Gosto de jeito debochado que ele trata os debates públicos
Tudo ficou muito sério, careta, pesado
E o Riserio mostra que dá pra ser bem incômodo sem perder a leveza, a sacanagem e a ternura..