13 dez Colar de Miçanga
Colar de Miçanga
Lembro que li dois livros do teólogo Leonardo Boff na minha adolescência ” A
Águia e a Galinha ” e ” O despertar da Águia ” e o autor além de ressaltar a
importância de não tolerarmos a intolerância, ia além: Tratava as diferenças
culturais e étnicas como fundamentais para dar graça à vida. As diferenças
não teriam que ser só toleradas, e passariam então ser apreciadas como
traço fundamental da experiência humana.
O Brasil era até pouco tempo uma promessa para o mundo de sociedade
contemporânea baseada na utopia de convívio pacífico das diferenças. O
Gilberto Gil quando ministro da cultura no governo Lula passava
perfeitamente essa imagem do país da reconciliação, da superação das
diferenças através de uma cultura híbrida e redentora. Hoje mais do que
nunca estamos rachados pela intolerância, vítimas de aproveitadores da fé e
difusores do ódio. O lado mais podre da sociedade brasileira parece que saiu
do bueiro com a eleição de um sujeito desprezível e inescrupuloso. Tudo isso
não surgiu do nada: das formas de intolerância o racismo é o mais aterrador
e se manifesta não só como ato perverso isolado, mas também como
herança cultural maldita. Ou seja, ninguém está isento de responsabilidade e
não há como se pensar numa sociedade minimamente saudável sem que
essa questão seja enfrentada por todos…//…Conheço os integrantes da
banda AfroJazz desde a época da faculdade de música UniRio que cursei
entre 2005 e 2010, e admiro muito o trabalho da banda (criada em 2012) que
traz influência de Miles Davis, Fella Kuti e Black Rio. Convidei a banda para
lançar o single ” Colar de Miçanga” que gravamos no final do ano passado
com arranjo de Rodrigo Ferreira e Voz/trompete de Eduardo Santana. A
música usa o símbolo do Colar de Miçanga presente nas tradições religiosas
afro – brasileiras para se referir ao olhar simples sobre a espiritualidade sem
demagogia, que tem na natureza e nos Orixás a manifestação do sagrado. A
canção também usa o símbolo Cristão do ” Joio e o trigo ” para se referir à
confusão causada pela difusão do preconceito. E destina um ” Cala essa
boca” a todos aqueles que querem fazer do Brasil um país rachado pelo ódio.